“Sextou!”

Em um mundo onde a comunicação está cada vez mais enxuta e rápida, o sucesso dos status ou stories (publicações que só ficam vinte e quatro horas no ar) é cada vez mais presente em nosso cotidiano. Alguns publicam fotos, outros memes, indiretas, mensagens… Fica a critério do freguês, isto é, do usuário. Eu confesso que comecei a lançar mão desse tipo de publicação mais recentemente. Afinal, para uma pessoa que gosta de registrar e guardar memórias como eu, algo tão efêmero não fazia muito sentido para mim. Mas acabei aderindo à moda, mesmo que timidamente.

Desde o começo da pandemia do Corona Vírus estou trabalhando remotamente e mantendo um isolamento social rígido, já que duas pessoas da minha família pertencem ao grupo de risco. Os amigos mais chegados estão cientes dessa condição. Por conta disso, um dos meus status intrigou muito a um deles.

Antes de contar o motivo, preciso fazer um prólogo, uma introdução. Grande parte das pessoas que possuem folga semanal aos sábados e domingos adoram a sexta-feira. Sem pandemia, é comum ver bares cheios após o expediente, dar escapadinhas ao cinema, encontrar os amigos, ou qualquer coisa que lembre lazer. Essas horas livres costumam ser chamadas de “happy hour”. Sim, essa hora feliz traz uma certa ilusão de que teremos muito tempo livre por dois longos (?) dias.

Pois é, voltemos ao meu status. Isolada com a família, trabalhando remotamente, festejei a chegada da noite de sexta-feira com uma alegria preguiçosa e aliviada: “Sextou!” Não demorou muito para receber a mensagem do meu amigo. “Qual a diferença para você se é sexta-feira ou não? Você não vai sair de casa mesmo”, questionou ele. Verdade, isso é um fato. O isolamento social pode dar a impressão de que os dias são todos iguais. No início eles até pareceram ser e eu confesso que cheguei a levantar cedinho em um sábado para começar a trabalhar, quando de repente me dei conta de que o final de semana havia chegado. Mas acreditem, com o tempo, nosso cérebro se acostuma a nova rotina e cria mecanismos que nos lembram o que representa cada dia e as tarefas a serem executadas. Aliás, para mim, o cérebro é um computador de última geração com uma capacidade incrível e misteriosa de nos surpreender. Mas e aí, o que significa “sextar” em tempos de pandemia? Liberdade, respondi ao ao meu amigo. “Liberdade? Para ir aonde?”, insistiu ele. Liberdade de ir da sala para o quarto, para a cozinha, para o banheiro sem se preocupar com o trabalho ou o horário. Sim, não é porque estamos trabalhando remotamente e já acordamos “no trabalho”, que não temos um horário a cumprir, tarefas a executar, respostas a dar, soluções a oferecer. “Sextar”, mesmo na pandemia, significa que teremos quarenta e oito horas para desfrutar como quisermos. Arrumar a casa, lavar a roupa, fazer uma comida mais elaborada, ver um filme, maratonar uma série, ou escrever um texto como este aqui. A escolha é nossa. E é aí que está a magia, poder escolher o que fazer, ou simplesmente não fazer nada. E então? “Sextou!” Qual é a boa para hoje?

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