Opinião: entrevistas com presidenciáveis – Jair Bolsonaro no Roda Viva.
Ontem à noite, o candidato à presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, esteve no programa Roda Viva da TV Cultura.
Sabatinado por vários jornalistas, Bolsonaro manteve a mesma linha que conquistou o seu eleitorado fiel. São muito comuns os memes que o associam àquela famosa faca de cozinha, como forma de ilustrar o seu perfil tão admirado de quem fala o que quer, “doa a quem doer”.
Por várias vezes, durante a sabatina, o que vimos foram respostas evasivas sobre questões importantes e tentativas de desvirtuar o foco dos questionamentos que estavam sendo feitos. Nada de novo. E pouco esclarecedor para quem ainda não decidiu a quem dar o seu voto. Quem já é seu eleitor, certamente aprecia e apoia o comportamento arrojado do candidato, principalmente ao falar de temas como segurança pública, sistema de cotas e tortura na ditadura e não vai ficar balançado com algumas respostas do candidato, que nos fazem refletir mais profundamente sobre os caminhos que trilharemos a partir das eleições 2018.
Com 27 anos de vida pública como deputado, o candidato nunca apresentou um projeto cujo tema tenha sido a segurança pública, apesar das suas afirmações sobre armar civis ser muito popular junto àqueles que se sentem acuados diante do quadro aterrador de violência que assola vários lugares do país. Questionado sobre isso, Bolsonaro prefere insistir na temática de que só um lado está armado e nem dá atenção ao questionamento de um dos jornalistas, que levanta a possibilidade de se intensificar o trabalho da inteligência da Polícia como forma de coibir o tráfico de armas, por exemplo.
Um outro ponto que causa um certo desconforto, ao menos para mim, foi a negação da história. “Agora não temos história, apenas passado. E já passou!”, disse ele, referindo-se aos registros de casos de tortura durante o período da ditadura militar. E acrescentou, depois de muita insistência, que não pretende abrir os arquivos das Forças Armadas, sobre a época da ditadura.
Sobre o tema racismo, confesso que achei a resposta do presidenciável um misto de inconsequência e infantilidade, com toques negacionistas, egocêntricos e circunscritos. “EU nunca escravizei ninguém! Que dívida é essa?”, questionou ele.
Enfim, a sabatina foi pouco esclarecedora. Foi mais do mesmo. Poucas respostas. Muitas polêmicas. Bolsonaro falou o que quis, na hora que quis, sobre o que quis, independente dos diversos questionamentos e tentativas de direcionamento. Seguiu mantendo a linha da polêmica, que tem alavancado sempre a sua popularidade, ou melhor dizendo, tornando-o cada vez mais conhecido do grande público. Nesse quesito, o candidato fechou com chave de ouro sua participação no programa, ao informar que o seu livro de cabeceira é o “Verdade Sufocada – a história que a esquerda não quer que o Brasil conheça”, do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, acusado de tortura durante o regime militar.
É Fátima, concordo com suas observações e se me permite acrescentar, fiquei muito decepcionada com as perguntas feitas pelos jornalistas, pueris, talvez por inexperiência. Uma figura caricata, é como esse candidato vem se apresentando e isso seria um prato cheio para profissionais mais experientes. Não exploraram os bordões fascistas que permeiam a fala desse candidato, achei lamentável, quase um desserviço aos eleitores. Beijão!!