Contato Improvisação – sentimentos e impressões.


Eu nunca havia ouvido falar sobre “Contato Improvisação” até ser convidada para a apresentação de uma TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) sobre o assunto.

A apresentação

Fui assistir a apresentação do trabalho da jornalista e bailarina Flor Castilhos. Antes resolvi dar uma olhada na internet  para ver o que encontrava. De cara, me deparei com a seguinte explicação: “Contato Improvisação é uma forma de dança improvisada que se desenvolveu a nível internacional a partir de 1972. Envolve a exploração do nosso corpo em relação ao corpo de outros, usando os princípios da partilha da consciência do peso, do toque e do movimento”. (Fonte: Wikipedia)
Fui a apresentação do trabalho curiosa e interessada em entender melhor como se dá essa “improvisação” no contato com o outro em forma de dança. O trabalho foi muito bom, porém para dar mais verdade a tudo que nos foi apresentado, Flor Castilhos nos convidou para uma aula experimental de Contato Improvisação.
A primeira coisa que pensamos ao ouvir o convite é: ” mas eu não sou bailarina, não faço dança…”. É aí que entra a improvisação. Todo mundo pode fazer. Desafio aceito, fui lá conferir a aula aberta.

A aula

Logo de início, Flor nos fez caminhar pela sala, por onde quiséssemos, uma espécie de aquecimento e reconhecimento do terreno. Depois nos orientou a apressar o passo e aqueles que quisessem, poderiam correr pelo ambiente também.
Logo em seguida, parávamos e estabelecíamos nosso primeiro “contato” com a pessoa que estivesse mais perto de nós naquele momento. Começamos a olhar “olho no olho” desse nosso próximo mais próximo. Sabe o que percebi? Encarar o outro nem sempre é fácil. Os olhos, às vezes, parecem ter vida própria e anseiam por andar em outras paragens.
O próximo passo foi trabalhar a confiança no outro. De olhos fechados, Flor ia nos orientando para buscar sentir a presença do outro e aguçar nossos sentidos. Me impressionou como somos capazes de expandir nossa percepção, quando decidimos utilizar nossos outros sentidos. Ainda de olhos fechados, pude sentir o pisar leve da pessoa próxima a mim. E estávamos todos descalços! Outros percebem odores, respiração e por aí vai. Não há uma regra.
O exercício seguinte busca trabalhar a confiança no outro. Com os olhos fechados, começamos com o toque leve tentando segurar a pessoa, que ora se inclina para um lado, ora para outro. Também aí podemos notar em alguns uma certa rigidez e medo de que o outro não consiga sustentá-lo sem deixar cair. Comentei sobre isso com Flor e ela fez uma observação interessante: “Desenvolver a confiança é importante, mas sem deixar de ter em mente que a responsabilidade pelo nosso corpo é nossa”.
A aula foi se desenvolvendo e há o momento de sentirmos a nós mesmos também. Rolamos pelo chão e fazemos os movimentos em que nosso corpo se sinta mais confortável. É chegada a hora de sentir mais de perto o toque e a presença do outro, ou outros. Nessa hora, algo inusitado acontece. Imagine um grupo que sente o corpo do outro pela proximidade. De repente, um elemento desse grupo decide sair dali. Por alguns instantes, o grupo se desestabiliza até encontrar seu equilíbrio novamente.
Nos momentos de maior contato, entrelaces de movimento, você pode estar se perguntando como podemos conseguir harmonizar o movimento, sem nos machucarmos, ou sentirmos algum desconforto, dor, se não temos a técnica dos bailarinos. Eu também me fiz essa pergunta. Não posso falar pelos outros, vou responder por mim. Senti que nosso próprio corpo estabelece nosso limite. Nosso instinto de proteção vai nos guiando e nos fazendo encontrar aquilo com que mais nos identificamos.
Ao final da aula, sentamos em círculo e conversamos sobre a experiência. Nos momentos em que o contato se estabeleceu através da aglomeração, alguns se lembraram dos vagões lotados do metrô na hora do rush. Outros se preocuparam mais com o movimento que fariam de segundo a segundo. “Essa foi uma aula experimental, por isso não foi muito longa. Algumas aulas de Contato Improvisação podem levar até três horas, pois muitas vezes o contato não se estabelece logo de cara”, explicou Flor Castilhos.
Mais tarde, conversando com um amigo, ele me perguntou o que eu tinha achado. “Gostei”, respondi, “foi diferente, perturbador em alguns momentos, ou melhor dizendo, desconcertantemente agradável e inusitado”, completei.

Um comentário em “Contato Improvisação – sentimentos e impressões.

  • sábado, 4 de maio de 2019 em 15:24
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    Também acharia estranho estabelecer esse contato com um estranho.

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